A linguagem simbólica da liturgia - Gotas de Liturgia
Alberto Bekeuser
Toda a Liturgia é simbólica, é sacramental. Claro que
devemos compreender o símbolo no seu sentido real como a mesma realidade num
outro modo de ser, elementos, objetos e ações que, ao mesmo tempo, contêm,
ocultam, revelam e comunicam o mistério ou como a linguagem ou comunicação do
mistério. Sendo o mistério a comunhão divino-humana, onde Deus e o ser humano
se encontram no amor, ou os seres humanos vivem em comunhão de amor em Deus.
Assim em toda a Missa entramos em comunhão com o mistério,
toda a Missa constitui oração, desde o sinal da cruz de abertura até o graças a
Deus final. A própria palavra é símbolo e particularmente a Palavra de Deus na
celebração. Ela evoca e torna presente o mistério celebrado; por ela a Igreja
faz memória de Jesus Cristo. É oração.
Lembro, porém, que restringimos a linguagem simbólica por
demais às palavras, o canto e as orações. Símbolos mais fortes do que a palavra
dos cantos e orações são os gestos, as ações, os ritos. Um gesto ou ação pode
constituir um rito simbólico como, por exemplo, o sinal da cruz, ou a bênção.
Depois, temos os ritos formados por vários símbolos como os ritos de entrada, a
Liturgia da Palavra, o liturgia eucarística e os ritos finais. Falamos também
em ritos de apresentação dos dons, o rito da consagração, pela Oração
eucarística, o rito de comunhão. Finalmente, podemos dizer que a Celebração
Eucarística como um todo pode ser chamada Rito da Missa. Por isso, não tem
sentido dizer: Celebrar com símbolos, pois toda a Missa é celebrada com
símbolos.
O mistério é comemorado não só através de palavras. A
comunhão com Deus na Liturgia, através da memória da Obra da Salvação de Cristo
Jesus, se realiza através de todos os sentidos. A Assembleia celebra de corpo
inteiro. A comunicação com Deus por Cristo e em Cristo se faz através do
ouvido, da vista, do olfato, do paladar e do tato, abrangendo todas as
faculdades da pessoa, a inteligência, a vontade e o sentimento. Rezamos com
todos os sentidos.
Assim, o primeiro símbolo ou rito da Liturgia é
encontrar-se, é formar assembleia celebrante. Convocados pela Palavra de Deus e
a fé, ao reunir-se, a assembleia já está comemorando o mistério da Igreja, do
Corpo de Cristo formado de muitos membros. A assembleia já constitui um
símbolo, um rito comemorativo. Depois, temos a Palavra de Deus e da Igreja. Não
podemos esquecer os elementos da natureza usados como linguagem simbólica na
Liturgia. Temos objetos como símbolos na Liturgia. Importantes são os gestos,
as ações, as posturas do corpo e os movimentos. Tudo se faz oração, tudo se
torna comemoração dos mistérios de Cristo, realizando a comunhão com o
mistério, comunhão com Deus Pai, por Cristo, no Espírito Santo. As vestes
sagradas falam do Sagrado, de Deus e das coisas divinas. Igualmente, a arte do
som, a música e o canto. Além disso, temos a arte da cor expressa na pintura,
na escultura, na decoração do espaço e no próprio espaço celebrativo, a igreja
como lugar de celebração dos mistérios. Inclui-se ainda o tempo como
experiência pascal. Temos, então, o tempo da Liturgia que abarca todo o tempo,
o passado, o presente e o futuro, e a Liturgia celebrada no tempo; no tempo da vida,
os sacramentos, no ciclo do tempo solar, o Ano litúrgico, no ciclo do tempo com
suas fases, formando as semanas, o Domingo, o Dia do Senhor ressuscitado e na
experiência do tempo diário da noite e do dia, das trevas e da luz, onde temos
sobretudo a Liturgia das Horas. A Eucaristia que celebra todo o mistério pode
estar presente e ser expressão de todas as experiências do tempo.