Canto de Paz - Gotas de Liturgia

Canto de Paz - Gotas de Liturgia
Alberto Bekeuser


O canto da paz não existe. Ele foi introduzido indevidamente por causa de uma compreensão imperfeita do rito da paz na Missa.

O “rito da paz” na preparação para a Comunhão eucarística se compõe de três elementos: A oração pela paz, que a Igreja deseja que seja presidencial, a saudação da paz com a resposta do povo e o cumprimento da paz, sendo que o cumprimento é facultativo.

Trata-se, antes de tudo, da paz que é Cristo, da paz na própria comunidade celebrante, da paz no interior da Igreja de Cristo, da paz para toda a família humana.

No decurso da história, rito da paz já esteve colocado em vários outros momentos da Missa. A reforma da Missa após o Vaticano II preferiu mantê-lo antes do rito da Comunhão, como preparação imediata a ela. Pensa-se hoje numa possível mudança de lugar. Em todo caso, se bem feito, o atual é o lugar mais adequado. Só pode entrar em comunhão com Cristo, quem estiver em comunhão com o próximo. Em outros momentos a saudação poderá ter outros sentidos: de acolhida, de despedida.

Para que não se torne um momento de dispersão da assembleia, importa compreendê-lo no seu verdadeiro sentido. Que seja sóbrio, sem tumulto e não se prolongue demais, invadindo o rito que se segue, o da fração do Pão, que deve ser intensamente vivido.

Infelizmente, aconteceu que o rito foi desvirtuado, acabando, muitas vezes, em verdadeiro tumulto. O padre, saindo do presbitério e indo até o fundo da igreja; todos querendo saudar a todos. Para interromper ou concluir a “saudação da paz”, o padre celebrante grita o início do “Cordeiro de Deus”, correndo para junto do altar, a fim de realizar o rito da fração do Pão. Em momento tão solene de preparação para a Comunhão, cria-se um verdadeiro tumulto, ficando o Corpo e o Sangue do Senhor sobre o altar em total abandono.

Para dar o devido lugar ao rito e ao cumprimento da paz, a Instrução Geral sobre o Missal Romano, em sua terceira edição típica, reconduz o rito à sua verdadeira proporção.

Diz a Instrução Geral: “Segue-se o rito da paz no qual a Igreja implora a paz e a unidade para si mesma e para toda a família humana e os fiéis exprimem entre si a comunhão eclesial e a mútua caridade, antes de comungar do Sacramento… Convém, no entanto, que cada qual expresse a paz de maneira sóbria apenas aos que lhe estão mais próximos” (n. 82). Ao descrever o rito no Cap. IV, temos a seguinte orientação: “Depois, conforme o caso, o sacerdote acrescenta: Meus irmãos e minhas irmãs, saudai-vos em Cristo Jesus. O sacerdote pode dar a paz aos ministros, mas sempre permanecendo no âmbito do presbitério, para que não se perturbe a celebração. Faça o mesmo se por motivo razoável quiser dar a paz para alguns poucos fiéis. Todos, porém, conforme as normas estabelecidas pela Conferência dos Bispos, expressam mutuamente a paz, a comunhão e a caridade. Enquanto se dá a paz, pode-se dizer: A paz do Senhor esteja sempre contigo, sendo a resposta: Amém” (n. 154).

Na XI Assembléia Geral de 1970, a CNBB decidiu que “o rito da paz seja realizado por cumprimento entre as pessoas do modo com que as mesmas se cumprimentam entre si em qualquer lugar público”.

Realizando-se o cumprimento dessa forma, não há lugar para um canto, pois, nem há tempo para isso. O gesto de paz, de comunhão e de caridade manifestado ao vizinho realmente se dirige a todos os presentes, bem como aos ausentes. Querer saudar a todos nesta hora é quase impossível. E corre-se o risco de omitir alguém, tornando-se a ação, quem sabe, sinal não de paz e de amor, mas talvez de discórdia. Trata-se, pois, de um gesto ritual simbólico significativo da paz e do amor em Cristo que abrange a todos.