Celebrar com símbolos - Gotas de Liturgia
Alberto Bekeuser
Não poucas vezes, ouvimos dizer nas Equipes de Liturgia:
“Nós aqui celebrarmos com símbolos”. Quando se usam estes termos pensa-se em
símbolos que acompanham os dons no rito da preparação do altar. Cuidado! Sempre
celebramos com símbolos. Toda a Liturgia faz uso de uma linguagem simbólica:
Gestos, ações, movimentos, silêncio e, até, as palavras.
Os grandes símbolos da Eucaristia como Sacrifício de ação de
graças e Ceia do Senhor são o pão e o vinho com água. Só tem sentido fazer
acompanhar ou preceder estes símbolos por outros, se eles realmente ajudarem a
compreender e a vivenciar os grandes e essenciais símbolos da Eucaristia. Em
geral, tais símbolos acrescentados mais distraem do que ajudam a vivenciar o
sentido místico da apresentação das oferendas. Quando bem compreendidos através
de uma catequese litúrgica eficiente, não há necessidade de ilustrá-los com
símbolos sobrepostos. Poderão ajudar em algumas circunstâncias, mas tais
“símbolos” não podem torna-se quase necessários e automáticos em toda
celebração. Eles não pertencem ao rito da preparação da Mesa do Senhor, não
pertencem à matéria do Sacrifício de ação de graças.
Precisamos compreender o que simbolizam o pão e vinho no
rito da apresentação dos dons, chamado também apresentação das oferendas ou
procissão dos dons ou das oferendas.
O pão e vinho constituem os elementos essenciais do banquete
ou da refeição fraterna. Significam o alimento sólido e o alimento líquido. Na
Ceia do Senhor, Banquete pascal, o pão e o vinho expressam um tríplice nível de
significado ou de simbolismo.
1. O pão e o vinho significam o que o ser humano é: sua vida
como dom de Deus, enfim, o mundo e todo o universo como dom de Deus. Ninguém
vive sem comer e beber.
2. O pão e o vinho significam, simbolizam o que o ser humano
faz. Ninguém vai colher pão na roça; ninguém vai buscar vinho no rio ou na
fonte. Isso quer dizer que o pão para chegar a ser pão, e o vinho para chegar a
ser vinho, passam por todo um processo humano. O trabalho, a criação, o
sofrimento. Significam o ser humano participante da obra da criação.
3. Na última Ceia Jesus Cristo deu um novo significado ao
pão e ao vinho. Ele relacionou o pão com o seu Corpo dado para a vida do mundo
e o vinho, com o seu Sangue derramado para a remissão dos pecados. Através da
entrega de sua vida por amor Jesus restaurou o sentido da vida e do amor do ser
humano. Aquilo que o homem é e aquilo que ele faz por Cristo e em Cristo, na
atitude de Cristo, readquire a dimensão do amor e da vida.
Quando os fiéis levam o pão e o vinho para o altar, que é
Cristo, a assembléia une a Cristo tudo aquilo que o pão e o vinho significam
naquele momento: a vida como dom de Deus, os trabalhos, as realizações, o amor
a Deus, ao próximo e a todo o criado, suas dores e sofrimentos. Tudo isso na
atitude de Jesus Cristo no Sacrifício da cruz, na sua entrega ao Pai e ao mundo
para que todos tenham vida e a tenham em abundância. Deste significado dos dons
brota a grande ação de graças, a Oração eucarística. A apresentação dos dons é,
pois, oração.
Por isso, convém que esta procissão de apresentação dos dons
se faça em silêncio e não seja perturbada ou distraída por uma série de outros
elementos, que em vez de ajudar dificultam este momento da apresentação dos
dons e a preparação da Mesa do Senhor.
Estas três dimensões dos símbolos do Sacrifício e da Ceia do
Senhor são belamente expressos nas palavras que o sacerdote profere ao
apresentar os dons ao altar:
“Bendito sejais, Senhor Deus do universo pela pão (pelo
vinho) que recebemos de vossa bondade, fruto da terra (da videira) e do
trabalho humano que agora vos apresentamos e para nós se vai tornar pão da vida
(vinho da salvação)”. Convém que a assembléia aclame.