Da casa da Igreja para a Igreja como casa - Gotas de
Liturgia
Alberto Bekeuser
Nos primeiros séculos do cristianismo, as Comunidades de fé
se reuniam pelas casas. Muitas vezes eram nobres ou pessoas abastadas que
colocavam suas casas a serviço da Comunidade de fé. Estas Comunidades cristãs
eram chamadas de Igreja, isto é, ecclésia ou ecclesía. O lugar, onde os fiéis
se reuniam, era chamada domus Ecclesiae, isto é, a casa da Igreja, comunidade
convocada por Deus. Lá eles se reuniam para a oração e, sobretudo, para a
Fração do Pão, ou seja, para a Celebração da Eucaristia. Mais tarde, a casa
onde os cristãos reuniam, começou a ser chamada de igreja.
A igreja-edifício tem suas origens na compreensão do templo.
Templo é a morada de Deus entre os homens. Era o espaço separado do profano,
reservado para a divindade. Este conceito também se encontra na prática
religiosa do Povo de Israel. O Templo de Jerusalém era a morada de Deus no meio
do seu povo. Por isso, um santuário.
Muito cedo os cristãos rejeitaram o culto a Deus no Templo.
Compreenderam que o verdadeiro templo de Deus era Jesus Cristo. No mistério da
Encarnação Deus armou a sua tenda entre os homens. Jesus mesmo ensina que o
verdadeiro templo é o seu Corpo: Podeis destruir este templo e em três dias o
hei de reconstruir”. Os discípulos compreenderam que ele falava do seu corpo,
que dentro de três dias haveria de ressuscitar (cf. Jo 2,19-22).
Também o cristão como morada de Deus, morada do Espírito
Santo, constitui um santuário, templo ou morada de Deus. São Paulo afirma: “Não
sabeis que sois templo de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós. Se
alguém destrói o templo de Deus, Deus o destruirá. Porque o templo de Deus é
santo, e esse templo sois vós” (1Cor 3,16-17). O Corpo místico de Cristo, a
Igreja, é verdadeiro templo de Deus. São Paulo diz ainda: Vós sois o edifício
de Deus, a construção de Deus (cf. 1Cor, 3,9). São Pedro tem uma afirmação
semelhante: “E vós também, como pedras vivas, tornai-vos um edifício espiritual
e um sacerdócio santo, para oferecerdes sacrifícios espirituais, aceitos por
Deus através de Jesus Cristo” (1Pd 2,5). Cada cristão e a comunidade cristã
como um todo é, pois, templo de Deus, casa de Deus.
A partir de Jesus Cristo, a igreja como edifício é o lugar
do encontro da Igreja, construção formada pelos membros do Corpo de Cristo. Os
elementos arquitetônicos da igreja-edifício hão de constituir um conjunto
harmonioso, assim como os diferentes membros da Igreja formam o único Corpo de
Cristo. No espaço celebrativo da Igreja, tudo deve falar do Corpo da Igreja, do
sagrado, do santo. Todo o espaço da igreja, sua forma, sua organização, sua
decoração e ornamentação, tudo ajuda a celebrar. A beleza do conjunto é
linguagem dos mistérios celebrados, tendo no centro o Mistério pascal. O espaço
é sagrado porque revela e é linguagem comemorativa da Obra da Salvação em
Cristo Jesus. Tudo deve ser belo e asseado e exalar agradável perfume.
O altar, que “é Cristo”, será o centro de todo o espaço
sagrado. A mesa da Palavra será artística. A cadeira do Presidente será centro
de unidade de toda a assembléia, em torno do Cristo sacerdote no altar e no ambão.
A cruz junto ao altar, de preferência, a cruz processional, recorda aos fiéis
que na Liturgia a Igreja celebra sempre o mistério da Salvação da Cruz e
Ressurreição do Senhor.
Nada de sobreposição de elementos, de imagens multiplicadas;
nada de cartazes obscurecendo a arquitetura do espaço, o altar, o ambão, as
paredes frontais ou laterais da igreja. Tudo, formando um harmonioso conjunto.
Então também o espaço sagrado fará parte do rito celebrativo, será símbolo do
mistério pascal celebrado na Liturgia.