O Senhor esteja “convosco” Gotas de Liturgia
Alberto Bekeuser
O título deste pequeno artigo nos leva a refletir sobre o
aspecto hierárquico e dialogal da assembleia litúrgica, como manifestação
máxima do Corpo de Cristo, a Igreja.
A Igreja, Corpo místico de Cristo, manifesta-se em sua
plenitude, quando reunida sob a presidência do Bispo ou de um presbítero, seu
delegado. Diz o Concílio Vaticano II: “As ações litúrgicas não são ações
privadas, mas celebrações da Igreja, que é o ‘sacramento da unidade’, isto é, o
povo santo, unido e ordenado sob a direção dos Bispos. Por isso estas
celebrações pertencem a todo o Corpo da Igreja, e o manifestam e afetam; mas
atingem a cada um dos membros de modo diferente, conforme a diversidade de
ordens, ofícios e da participação atual” (SC 26). Mais adiante se afirma: “Nas
celebrações litúrgicas, cada qual, ministro ou fiel, ao desempenhar a sua
função, faça tudo e só aquilo que pela natureza da coisa ou pelas normas
litúrgicas lhe compete” (SC 28).
Se estes princípios valem para toda ação litúrgica,
aplicam-se particularmente à Missa. A Instrução Geral sobre o Missal Romano
diz: “A Celebração Eucarística constitui uma ação de Cristo e da Igreja, isto
é, o povo santo, unido e ordenado sob a direção do Bispo. Por isso, pertence a
todo o Corpo da Igreja e o manifesta e afeta; mas atinge a cada um dos seus
membros de modo diferente, conforme a diversidade de ordens, ofícios e da participação
atual. Desta forma, o povo cristão, ‘geração escolhida, sacerdócio real, gente
santa, povo de conquista’, manifesta sua organização coerente e hierárquica.
Todos, portanto, quer ministros ordenados, quer fiéis leigos, exercendo suas
funções e ministérios, façam tudo e só aquilo que lhes compete” (n. 91). E
acrescenta: “Toda celebração legítima da Eucaristia é dirigida pelo Bispo,
pessoalmente ou através dos presbíteros, seus auxiliares” (n. 92).
Para expressar que somente os ministros ordenados presidem a
celebração litúrgica na função de Cristo Cabeça do seu Corpo que é a Igreja,
ela reserva, pelas normas litúrgicas, as saudações, as bênçãos e o envio da
assembleia ao ministro ordenado, no exercício de sua função. Os ministros não
ordenados são considerados iguais entre os demais fiéis. Por isso, não ocupam a
cadeira da presidência, nem saúdam liturgicamente, nem abençoam os fiéis. Por
exemplo, em celebrações da Palavra, quem proclama o Evangelho não saúda a
assembleia, mas diz simplesmente: “Ouçamos as palavras do Evangelho de Jesus
Cristo, segundo Mateus”, ou simplesmente: “Do Evangelho de Jesus Cristo,
segundo Lucas”.
Por outro lado, os ministros ordenados não dirão: O Senhor
esteja conosco, mas, O Senhor esteja convosco; Abençoe-vos o Deus todo poderoso;
A paz do Senhor esteja sempre convosco e não conosco; Ide em paz, e não, vamos
em paz e o Senhor vos acompanhe, e não, nos acompanhe. Não é fácil largar um
hábito adquirido!
O costume, mais ou menos generalizado de os sacerdotes se
incluírem nas saudações e bênçãos, surgiu nos primeiros anos após o Concílio.
Foi a tendência de se valorizar o sacerdócio batismal dos leigos. Feliz ideia,
mas fora do lugar!
Os ministros ordenados em sua função, no diálogo com a
assembleia, expressam o diálogo da assembleia com Deus. Eles estão agindo em
nome de Deus, em nome de Cristo. É Deus, em nome de Cristo e na força do
Espírito Santo, quem saúda, abençoa e envia. Exercem uma função mediadora entre
Deus e a assembleia. Eles comunicam Deus com a assembleia e a assembleia com
Deus. Trata-se de uma comunicação divina. Os ministros ordenados expressam e
exercem uma especial presença e ação de Cristo na Sagrada Liturgia de todo o
povo santo e sacerdotal de Deus.