Sacrifício: o que significa? - Gotas de Liturgia
Alberto Bekeuser
A Igreja ensina que a Missa é um sacrifício de ação de
graças. Mas, o que é sacrifício?
A palavra sacrifício é muito mal entendida ou, então, entendida
num sentido muito negativo pela maioria dos cristãos. Para a gente em geral,
sacrifício é algo que custa, é renúncia de alguma cosia, algo difícil de fazer.
Ou então, parece que exige imolação. Acaba sendo sinônimo de morte, como na
expressão “sacrificar um animal”. Sacrificar, então, significa matar.
A palavra sacrifício, no entanto, tem um sentido muito mais
amplo e positivo. A palavra sacrifício vem do latim e é composta de duas
palavras: sacer e facere. Sacer significa sagrado, divino e facere significa
fazer. Sacrifício significa, pois, o que é feito sagrado, divino. E sacrificar
significa tornar sagrado, fazer algo divino, tornar algo divino. Orientar algo
para Deus.
Quem sacrifica é sacerdote. Sacerdote também tem a ver com
sagrado. Sacerdote vem de sacer (sagrado, divino) e dos (dote, dom). Sacerdote
é, então, dom sagrado, dom divino. Assim, pela própria criação à imagem e
semelhança de Deus, o ser humano é sacerdote: um dom que vem de Deus, que ele
recebe de Deus e um dom para Deus. Esta é a sua vocação.
O Antigo Testamento e, sobretudo, os salmos dizem que Deus
deseja um sacrifício de ação de graças, um coração contrito e humilhado. Este é
o verdadeiro sacrifício espiritual. Deseja que o ser humano acolha a vida como
dom de Deus e a ofereça como uma doação a Deus. Diz o salmista que o sacrifício
mais agradável a Deus, o mais sublime, é o sacrifício de louvor. Sim, o louvor
é sacrifício, pois nele reconhecemos que tudo é de Deus e tudo vem de Deus.
Por que, então, a palavra sacrifício acabou incluindo a
conotação de renúncia, de imolação e até de morte? Porque a expressão mais
radical da entrega da vida a Deus é reconhecer que ela é mortal. Pelo fato de o
ser humano sempre tentar possuir a vida não como dom, mas como um direito e
querer apropriar-se dela, a exemplo dos primeiros pais, ele deixa de ser
sacerdote, frustra sua vocação divina e cai na morte.
Ora, Jesus Cristo, por seu exemplo, veio convencer a
humanidade de sua condição de criatura mortal. Ele a viveu de maneira plena e
total como dom do Pai e entregou, ofereceu a sua vida ao Pai na obediência e no
amor. Jesus consagrou a sua vida, lançando-a em Deus, reconhecendo que era dom
de Deus, entregando-a nas mãos do Pai: Em vossas mãos entrego o meu espírito,
minha vida, minha sorte, meu destino. A linguagem do sacrifício de Cristo foi a
paixão e a morte, mas o dom, a oferta a Deus foi a entrega de sua vida na
obediência e no amor.
Por isso, a Eucaristia é a atualização desta entrega de
Cristo ao Pai na ação de graças da Igreja pela sua entrega total. Por isso, a
Missa é um sacrifício de ação de graças.
Por ele e nele, os cristãos que reconhecem a vida como dom
de Deus no sacramento do Batismo, onde se tornaram sacerdotes, podem viver o
seu sacerdócio, no sacerdócio de Cristo. Deixam-se divinizar, morrendo e
ressuscitando com Cristo, acolhendo a própria vida como dom de Deus e
oferecendo-a com Cristo e em Cristo ao Pai.
Este aspecto da divinização realiza-se também na Comunhão
eucarística. Nela reconhecemos que Cristo nos arrebata para dentro de si, que
ele nos diviniza e que nós colocamos a nossa sorte, toda a nossa vida Nele.
Jesus Cristo nos diviniza, Jesus Cristo nos sacrifica.
No sacramento da Eucaristia isso acontece através do
ministério do sacerdote ordenado.
Assim, toda a nossa vida, nosso ser e agir se tornam um
sacrifício espiritual, um sacrifício de louvor a Deus, um sacrifício de ação de
graças.