Mãos que falam com Deus - Gotas de Liturgia
Alberto Bekeuser
Em geral as pessoas não sabem o que fazer com as mãos
durante as celebrações litúrgicas. Andam balançando os braços, aproximam-se da
Comunhão com as mãos nos bolsos. Desde criança, ao ensinar o filho a rezar, a
mãe lhe junta as mãos.
A linguagem das mãos é muito forte. Em línguas semíticas a
palavra para designar a mão significa também poder. Para agir, a mão é o meio
mais importante do ser humano. Ele pode usar as mãos para fazer o mal ou para
fazer o bem, para abençoar, para partilhar. Daí a expressão: ter mãos abertas.
Com o sentido de ação generosa, as mãos aparecem frequentemente nas Escrituras:
“Tu lhes dás e eles o recolhem, abres tua mão e se saciam de bens” (Sl 103,28).
Estar nas mãos de alguém significa estar à sua disposição, sob o seu poder (cf.
Gn 16,16). Significa também proteção de Deus. Na hora da morte, Jesus exclama:
“Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23,46). Os Padres da Igreja
interpretam a mão de Deus como o Verbo encarnado que, “por sua própria mão,
tudo fez existir”.
Entre todos os povos e culturas se expressa o sagrado, a
relação com a divindade, através da linguagem das mãos. As mãos falam, falam de
Deus e com Deus.
Em relação à linguagem das mãos podemos distinguir ações,
gestos e posturas.
Ações: – Ação de traçar o sinal da cruz sobre si mesmo,
sobre objetos e pessoas; impor as mãos como invocação do Espírito Santo e
bênção; dar as mãos, gesto de acolhida como no matrimônio; dar a mão como
saudação; receber dons e objetos diversos. Acender fogo ou velas. Temos ainda a
ação de tocar, de partir, de lavar as mãos, de ungir.
Gestos: Fazer o sinal da cruz da testa ao peito e do ombro
esquerdo ao direito, enquanto a outra mão repousa sobre o peito. Temos a
persignação no início da proclamação do Evangelho. Traça-se o sinal da cruz
sobre a fronte, sobre os lábios e sobre o peito, enquanto a outra mão repousa
sobre o peito. O sentido é claro. Na fronte: – que o Evangelho seja entendido;
sobre os lábios: – que o Evangelho seja testemunhado; sobre o peito: – que o
Evangelho seja vivido. Erguer as mãos, sinal de louvor, de oferta e de súplica.
A mão estendida como na concelebração.
Posturas: Mãos juntas, unidas pelas palmas, constituem
símbolo da oração, da relação e comunhão com Deus. Temos vários modos de juntar
as mãos. As mãos juntas, uma palma da mão unida à outra. Esta forma é usada
sempre que o sacerdote presidente, o diácono ou os acólitos se deslocam de um
lugar para outro. Também é usada quando, de pé junto ao altar, ao ambão e à
cadeira, o sacerdote não está em ação. Isso vale também para o diácono e os
acólitos. Mãos juntas com os dedos entrelaçados: é a posição das mãos na oração
particular e quando se está de joelhos. Mãos juntas, uma acolhendo a outra em
forma de concha: É uma forma válida para os fiéis em geral, quando se
movimentam na igreja ou se aproximam da Sagrada Comunhão e quando os leitores
se aproximam do ambão.
Ao altar, quando uma das mãos estiver ocupada em fazer algo
como virar a página, descobrir ou cobrir o cálice, a outra repousa espalmada
sobre o altar. Quando traça o sinal da cruz sobre algo depositado sobre o
altar, a outra mão também repousa com a palma da mão sobre o altar. Quando
traça o sinal da cruz sobre si mesmo ou o povo, a mão esquerda repousa sobre o
peito. Finalmente, quando saúda o altar com um beijo, apoia as duas mãos sobre
o altar, como que num abraço ao Cristo, pois o altar é Cristo. Faz a mesma
coisa quando junto ao altar faz genuflexão. Tudo isso expressa a harmonia e a
beleza do rito feito oração.
Não se prevê o gesto de dar as mãos durante o Pai nosso.
Palmas não existem no Rito Romano. A salva de palmas, contanto que não se torne
um rito permanente, pode, ocasionalmente, ser significativa. A assembleia
reunida reza também através das mãos.